O presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo Del Nero, foi afastado do seu cargo por 90 dias, enquanto a entidade foi multada em R$ 10 mil. A decisão foi tomada nesta quarta-feira pelos auditores da Terceira Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), baseada no episódio ocorrido no fim do ano passado que ficou conhecido como 'Caso Tardelli'.
De acordo com a assessoria de imprensa da FPF, o nome do substituto de Del Nero será definido apenas nesta quinta-feira. O vice da entidade, Reinaldo Bastos, está com seu cargo sub judice pelo envolvimento na polêmica.
"O julgamento me parece justo, porque foi feito em cima de uma investigação, de uma análise, e indicou a prática de um ato infracional da parte dele [Del Nero], pra dizer o mínimo. Isso nos conforta, pois tudo o que sustentamos, como dirigentes do São Paulo, foi confirmado. O que ele fez foi equivocado e leviano, pois procurou dar ao São Paulo um ato não litigioso", afirmou Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, vice-presidente de futebol do clube tricolor.
"Achei que foi uma decisão exagerada para alguém que salvou o campeonato. A pena de 90 dias foi a mínima prevista, mas esse era um caso de absolvição. Já imaginou se o Tardelli estivesse apitando e tivesse saído o gol irregular? Estaríamos discutindo a legitimidade ou não até agora", rebateu João Zanforlim, advogado que defendeu Marco Polo Del Nero e a Federação Paulista de Futebol.
Durante o julgamento, realizado no Rio de Janeiro, a defesa tentou anular a audiência, alegando que, se Del Nero estivesse sendo denunciado como pessoa física, o STJD não era a esfera adequada para isso. Os auditores, no entanto, recusaram o argumento, obrigando o advogado do presidente da FPF a apresentar um vídeo com uma declaração de apoio feita pelo ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior.
Um dos momentos mais tensos, no entanto, foi quando João Zanforlim, que fazia a defesa da Federação Paulista de Futebol, fez insinuações a respeito da competência dos auditores da comissão. O presidente da comissão afirmou ter ficado ofendido com o fato e que iria comunicar o ocorrido ao mandatário do STJD, Rubens Approbato.
Os cinco auditores foram unânimes em apontar culpa de Del Nero baseados no artigo 221 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que aponta pena por "Oferecer queixa infundada ou dar causa, por erro grosseiro ou sentimento pessoal, à instauração de inquérito ou processo na Justiça Desportiva".
Antes da última rodada do Campeonato Brasileiro do ano passado, Del Nero se transformou no pivô de uma grande polêmica. Um dia antes da partida entre Goiás e São Paulo, que definiria o campeão e seria apitada por Wagner Tardelli, o presidente da FPF denunciou algo que poderia ser interpretado como uma suposta manipulação de resultado.
Depois de telefonar para o chefe de arbitragem da CBF, Sergio Correa, o presidente da CBF confirmou o teor da conversa por meio de um email. Na mensagem, revelada dois dias depois, Del Nero informa que um envelope foi entregue ao vice-presidente da FPF, Reinaldo Bastos, para que o mesmo fosse enviado a Tardelli.
Ainda segundo a versão contada por Del Nero na época do caso, uma de suas secretárias teria o avisado sobre o envelope e, para que não fossem levantadas suspeitas sobre um suposto suborno, a denuncia foi feita. Diante do fato, Tardelli foi sacado da partida, e um novo árbitro foi determinado para comandar o jogo entre Goiás e São Paulo.
Apesar de não confirmado, já que Del Nero afirma não ter visto o envelope, chegou-se a cogitar que Tardelli receberia ingressos para um show da cantora Madonna, que aconteceu em dezembro, no estádio do Morumbi, de propriedade do São Paulo.